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A História dos Porsche 356 em Portugal

(… e dos 550 Spyder também) Um trabalho de José Guedes e Luis Sousa

Epílogo

A parte essencial e estrutural deste trabalho está completa. Porém o mesmo não está nem nunca estará terminado. A história dos Porsche 356 em Portugal – que se confunde  com a história da Porsche no nosso país pelo menos até 1963, data da introdução do modelo 911 –  continuará a ser feita com o material que entretanto vá sendo descoberto, analisado e colocado no lugar que cronologicamente lhe compete. Continuaremos as nossas pesquisas e continuaremos interessados em toda a informação relevante que possa contribuir para enriquecer este espaço, contando para isso com a colaboração dos nossos leitores e dos entusiastas da marca Porsche em geral.

Chegados aqui consideramos ser da mais elementar justiça agradecer a todos aqueles que connosco têm vindo a colaborar na elaboração desta História dos Porsche 356 em Portugal, nomeadamente  João Gomes, Ernesto Neves, João Castello Branco, Ângelo Pinto da Fonseca, João Folgado, Zico Ramone, Centro de Documentação do ACP, Biblioteca Nacional, etc, entre outros que nos têm distinguido com a sua preciosa e desinteressada ajuda. Muito obrigado.

Luis Sousa e José Guedes

Porsche 904 (e 356) em Angola

1968

Em 1968  António Lacerda, funcionário e sócio do conglomerado Robert Hudson, importador Ford para Angola, adquire na Suiça o Porsche 904 GTS chassis 904-075 pertencente ao marroquino Jacques Frey que desde 1964 o usou de forma intensiva para participar em provas de velocidade um pouco por toda a a Europa, correndo frequentemente sob a bandeira da scuderia Filipinetti. Apesar da fadiga causada por tanta atividade o carro estava em muito boas condições quando foi adquirido pelo empresário angolano para ser pilotado por Ahrens de Novais, um setubalense bem dotado para o automobilismo que já ostentava um número considerável de vitórias em Lotus Elan e Porsche 356 1500S.

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Em Luanda, à frente do Porsche 356 B de Vítor Silva e, na imagem de baixo, a ser perseguido pelo Lotus Elan de “Nicha” Cabral e pelo Lotus 47 de Carlos Santos.

68 Luanda

Apesar de já se apresentar algo desactualizado em 1968, o Porsche 904 GTS ainda continuou a ser competitivo durante um par de anos pelas mãos de Ahrens de Novais que com ele venceu os circuitos de Luanda, Benguela e Moçâmedes até que no final de 1969 o carro foi devolvido a António Lacerda, seu proprietário original, que continuou a usá-lo em provas de velocidade até 1972 mas sempre com resultados modestos. Nos finais de 1972 foi cedido a Gil Morgado, um conhecido especialista em automóveis NSU, desconhecendo-se o seu paradeiro atual.

Os Resistentes

1967

Apesar de já completamente obsoletos em termos desportivos os Porsche 356 continuavam a aparecer esporadicamente em provas realizadas em território nacional, a saber:

João José Ramos e o seu Cabrio Super 90 na Volta à Madeira

João José Ramos , Madeira 67 - 356 S90

Almeida Dias no Circuito de Nova Lisboa

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E finalmente João Paulo Sottomayor na Rampa de Viana do Castelo (Santa Luzia)

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Ponto Final

1966

A época de 1966 iria assistir às últimas participações do Porsche 356 em provas de velocidade em Portugal, neste caso pelas mãos de um entusiasta do Porto sem grandes pretensões em termos de resultados. Com um carro que há pelo menos dois anos deixara de ser competitivo João Paulo Sottomayor começou por se apresentar na Rampa da Pena onde viria a conseguir um respeitável terceiro lugar na categoria Grande Turismo, apenas batido pelo Ferrari GTB/C de Aquiles de Brito e pelo Lotus Elan de António Menéres.

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Seguiram-se os circuitos de Montes Claros, Lordelo do Ouro, Cascais e Vila do Conde, com resultados mais ou menos encorajadores. Em Montes Claros João Paulo Sottomayor bateu-se bem com o Austin Healey de Vasco Pinto Basto mas viria a ser desclassificado no circuito de Cascais por ter feito um pião logo na primeira volta na sequência do qual o seu carro foi empurrado por um espectador. As coisas correram melhor em Lordelo do Ouro, prova em que conquistou um honroso sexto lugar à frente do carro idêntico de Marques Amorim. Em Vila do Conde o Porsche 356 do piloto portuense bateu-se com o MGB de “Ed Crow” durante algumas voltas mas acabaria por abandonar por avaria, colocando assim um ponto final na carreira desportiva dos Porsche 356 em Portugal.

 

O Fim do Carrera GS/GT

1966

No início da época de 1966 Américo Nunes já tinha compreendido que perdera o título de Campeão Nacional do ano anterior devido à falta de fiabilidade do Porsche Carrera 2000 GS/GT, razão pela qual decidiu optar pelo regresso ao velho 356 SC para as provas de rali, deixando o Carrera para a velocidade apenas. Apesar dos cuidados que Jaime Rodrigues e o mecânico “Pelé” (da Guérin) dedicavam ao motor deste último os problemas não deixavam de aparecer. Apesar disso Américo Nunes decidiu proceder a algumas alterações de ordem cosmética, nomeadamente alterando a traseira do carro para lhe dar um certo “Abarth look” com que se apresentou no Circuito de Montes Claros, onde obteve resultados modestos. Depois de falhar a vitória na Rampa da Pena devido a uma saída de estrada o Carrera viria a conhecer um conjunto de fracas prestações nos circuitos de Montes Claros, Cascais, Lordelo do Ouro e Vila do Conde. O melhor resultado que conseguiu foi um terceiro lugar na classe respectiva no Circuito de Cascais mas mesmo assim a grande distância dos Lotus 26 R inscritos na mesma categoria.

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Finda a época o piloto resolveu fazer a viagem por estrada até ao departamento de competição da Porsche  em Stuttgart para trocar o Carrera 2000 GS/GT por algo mais competitivo mas enquanto atravessava França o motor cedeu de vez. Frustrado e com o sucedido Américo Nunes acabaria por vender os “restos” do Carrera a um sucateiro local, terminando assim a história portuguesa deste carro verdadeiramente invulgar.

O Último Título

1966

Este seria o ano de Manuel Gião e do Cooper S, o ano em que ambos venceriam sete das oito provas mais importantes a contar para o Campeonato Nacional, tendo para isso treinado muito bem os percursos a percorrer e usufruindo da qualidade da preparação que Jaime Rodrigues fez ao carro inglês. Segundo Américo Nunes declarou numa entrevista a um jornal da especialidade o Cooper era mais rápido que o Porsche 356 SC em provas de rali e Manuel Gião estava num forma tal que tornava o conjunto praticamente imbatível. Só não conseguiram vencer a XVII Volta a Portugal inteiramente dominada pelos Porsche 356 SC de Basílio dos Santos / Mário Malveira e Américo Nunes / Evaristo Saraiva, respectivamente primeiro e segundos classificados. Esta última equipa viria a conquistar o campeonato na categoria GT, facto que elevaria para três o número de vitórias consecutivas conquistadas pelos Porsche 356. A partir desta vitória Basílio dos Santos viria a converter-se ao Porsche 911, mantendo porém o 356 na garagem pronto para qualquer eventualidade.

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Casteliano Junior durante uma prova na Praça do Império a contar para o Critério de Iniciados 1966

 

 

Nos iniciados são de realçar os nomes de Beirão da Veiga, Ferreira de Almeida, Antonio Gamito e de um jovem promissor chamado Casteliano Junior. Outro nome que surgiu ocasionalmente e que venceu o Rali da Queima das Fitas da Universidade do Porto foi Américo Amorim que tripulava na altura um Porsche 356 SC branco.

GP de Angola 1965

1965

Depois de ter vencido na véspera a Taça Cidade de Luanda (Lotus Elan) António Peixinho apresentou-se à partida para o Grande Prémio de Angola ao volante do mesmo Porsche 550 Special que ganhou o Circuito de  Montes Claros desse ano pelas mãos de Charly Cuénoud. Além deste carro a marca de Stuttgart estava representada pelos Porsche 904 de Rolf Stommelen, Ising Rainer e “Elde”. Durante os treinos o 550 Special de António Peixinho partiu uma árvore de cames e em consequência derramou óleo na pista provocando alguns incidentes mais ou menos graves. O Ferrari 250 LM de Dumay foi uma das vítimas, forçando o chapeiro de serviço a trabalhar toda a noite  e o Cobra 7 Litros de Jo Schlesser só por sorte não teve destino semelhante depois de o piloto ter perdido o controle do carro. O Porsche 904 de Stommelen teve problemas de motor desde o início dos treinos facilitando assim a vida a David Piper que fez a “pole position” ao volante do Ferrari P2 de 4,400 cc. Note-se que estes treinos se realizavam às 6 da manhã para não perturbarem o regular funcionamento do comércio local cuja actividade tinha início a partir das 9 horas.

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O Porsche 550 Special de António Peixinho na grelha de partida para o Grande Prémio de Angola 65.

 

No Grande Prémio a luta pelo primeiro lugar envolveu, como se esperava,  o Cobra de Schlesser, O Ferrari de David Piper e o Brabham de Denny Hulme. Rolf Stommelen foi o primeiro a abandonar, seguido por António Peixinho que viu a árvore de cames do Porsche 550 Special voltar a partir depois de ter sido soldada na véspera. Os Porsche 904 de “Elde” e Rainer terminaram em sexto e oitavo lugar da classificação geral respectivamente sendo batidos pelo Elva Porsche de Simon Gous na classe até 2 litros.

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Um Porsche Muito Especial

1965

O Circuito de Montes Claros de 1965 apresentava à partida uma interessante lista de inscritos, não só nacionais mas também estrangeiros. Entre os portugueses destacavam-se os Lotus Racing de António Peixinho e Carlos Gaspar, o Ferrari 275 GTB de Aquiles de Brito e o Porsche RSK de Carlos Faustino. Da Suiça vieram Pierre de Siebenthal com um Bizarrini  e o seu amigo Charly Cuénoud que conduzia um Porsche 550 Especial construído a partir dos destroços do 550 Spyder ( 550-043) com o qual Anne Bousquet sofrera um acidente fatal dez anos antes. O chassis foi modificado pelos irmãos Gachnand de forma a permitir o uso de jantes mais pequenas e um novo tipo de amortecedores, enquanto que a nível do motor a alteração mais significatica teve a ver com o aumento da cilindrada para 1750 cc e consequente aumento da potência para 150 HP. A carroçaria foi concebida por Piero Drogo.

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O Porsche RSK de Carlos Faustino em luta com o Porsche 550 Especial de Charly Cuénoud no Circuito de Montes Claros 1965

Os suiços chegaram atrasados a Portugal e não puderam por isso treinar, tendo partido para a corrida na última fila da grelha. No início foram os Lotus de Peixinho e Gaspar a dominar os acontecimentos mas ambos acabariam por abandonar deixando o caminho livre para o Porsche de Cuénoud que vinha ganhando posições em cada volta que passava até que, para sua surpresa, acabou por ganhar a corrida. Como se esperava o Porsche RSK de Carlos Faustino voltou a revelar problemas de fiabilidade e não terminou a prova.

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O Porsche 550 de Cuénoud / Siebenthal nos 1000 km de Nurburgring 1965

 

 

O Emblema

1965

Tal como o nome sugere o Rallye de Encerramento marcava o final da época automobilística em Portugal e proporcionava aos concorrentes aos diversos campeonatos a última oportunidade para pontuarem. Para a edição de 1965 Ernesto Neves apresentou-se à partida com o Porsche 356 SC com que tinha vencido a Volta a Portugal desse mesmo ano na companhia de Basílio dos Santos. Desta vez era acompanhado por Ricardo Martorell e apesar da pouca competitividade do 356 ainda logrou conquistar o primeiro lugar na categoria GT, deixando para Miguel Rau, em Cooper S, a vitória absoluta na prova.

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Ernesto Neves e o Porsche 356 SC na Rampa do Montejunto durante o Rallye de Encerramento 1965

Na altura causou sensação o enorme emblema da Porsche pintado no capot dianteiro do 356 de Ernesto Neves por um artista surdo-mudo que trabalhava na oficina 9 da Guérin, o departamento da empresa que dava assistência aos carros da marca de Stuttgart. Pouco tempo depois do Rallye de Encerramento o CB-78-01 iria deixar a competição para se dedicar a tarefas um pouco menos nobres tais como rebocar o bem mais competitivo Morris Cooper S Broadspeed desde o circuito de Silverstone até Lisboa ou servir de cenário para fotografias de jovens modelos em ascensão.

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João Lagos, Luis das Neves, Álvaro Montepegado e Ernesto “Nené” Neves no interior do Porsche deste último, o qual ostenta o maior emblema (crest) alguma vez pintado num carro da marca.

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O Porsche 356 SC de Ernesto Neves no circuito de Silverstone pronto para rebocar o Morris Cooper S Broadspeed até Lisboa

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